sábado, 7 de março de 2015

PEDALANDO, EMPURRANDO E ANDANDO

            Sesta-feira, dia 26/10, resolvi ir em direção ao Parque Estadual Serra do Papagaio, mais precisamente ao Retiro dos Pedros. Estava com sede de montanha. Não sei se conseguirei, pois a subida é longa, íngreme e com vários trechos com calçamento de pedra, muito ruim de subir com a bike. O dia estava lindo. Resolvi fazer a barba, que nunca esteve tão grande. Estava muito quente. Saí às 9:15.

            Até a estrada de acesso ao parque foram exatamente 4 km, sendo 3 km de subida. O início da estrada já era com aquele calçamento de pedra, ruim de pedalar, pois as pedras são de diversos tamanhos e formatos. Cerca de 150 metros de subida depois, me cansei e comecei a empurrar pela primeira vez. Mesmo empurrando ladeira acima não foi fácil. Parava para descansar e empurrava novamente. Quando a subida abrandava, ou acabava o piso, e voltava a ser de terra batida, eu recomeçava a pedalar. Logo chegava nova subida calçada, pedalava o que conseguia e empurrava novamente. Por vezes também consegui passar pedalando por todo o calçamento.

            Após um bom tempo de subida encontrei um pocinho de água e aproveitei para me refrescar, molhando minha cabeça e camiseta. Já não estava tão longe da Cachoeira dos Garcias e resolvi que lá iria fazer uma parada para banho e lanche. Exatamente às 11:00 cheguei lá, tendo percorrido apenas 11 km no total. Coloquei minha bike presa com cadeado junto a uma árvore, retirei o que era possível dela, coloquei em minha mochila e desci o barranco até a base da cachoeira. A descida foi tranquila e logo cheguei, louco para dar um mergulho. Que delícia de mergulho! Que delícia de cachoeira! Lá embaixo nunca tinha ido e o visual era fantástico, com suas quedas batendo nas pedras e o sol refletindo na água. Aproveitei para fazer uma massagem natural nas costas, mas não deu para ficar muito tempo, pois a água batia muito forte. Foi muito bom estar ali sozinho, depois de tanto esforço.



            Acomodei-me numa pedra, coloquei minha garrafa dentro d’água, num ponto onde ela podia ficar e resfriar. Lanchei e deitei sob a pedra, tomando um sol e descansando um pouco. Pouco depois, dei novo mergulho, molhei minha camiseta e retornei morro acima. Às 12:50 já estava pronto para continuar o pedal, agora com destino ao Retiro dos Pedros. Até aquele ponto já conhecera de carro anteriormente, porém mais adiante não.

            Logo chego a um mata-burro com as vigas de ferro posicionadas no mesmo sentido do pneu e não perpendicular a ele, com vão mais largo que o pneu da bike. Não me arrisco e passo andando. O caminho continua subindo, com alguns calçamentos, mas também muita pedra ao invés do chão batido apenas. Tanto que em diversos pontos um carro comum não consegue passar, por ser baixo e não ter tração. Há algum tempo que não avisto o Pico do Papagaio, pois estou indo do outro lado dele. Após passar por outro mata-burro idêntico ao anterior e uma porteira a seguir com placa pedindo: “pelo amor de Deus feche a porteira”, chego sem maiores dificuldades a outras placas que dizem: à direita para Baependi e à esquerda para a Pousada Lado de Lá, Canyon e Santuário das Cachoeiras. Entre elas um caminho de pedras subindo, mas obstruído. Só podia ser por ali, pois me disseram que antigamente era permitido subir de Jipe até lá. Até aqui percorri cerca de 15 km no total.

            Assim, vou empurrando a bike morro acima, seguindo uma “estrada” de pedras soltas e fixas, pequenas e enormes. Nem me arrisco a pedalar, pois além da dificuldade, estou cansado. Algum tempo depois, já um pouco aborrecido de ter de empurrar a bike, encontro uma mata à minha esquerda e não tenho dúvidas – vou deixar ela escondida. São 13:15. Livre de mais esse peso, segui a pé feliz da vida, curtindo o visual e atento ao caminho por onde um jipe poderia estar passando.

          Ao caminhar precisei tomar cuidado para não pisar nas plantas, pois entre as pedras várias delas cresciam, muitas delas floridas inclusive. Além de pequenas Amarílis vermelhas nas margens e à distância, pequeninas Éricas roxas e muitas outras flores amarelas, brancas e vermelhas, tão delicadas e minúsculas quanto estas, as quais não sei nomear. 

             Logo comecei a avistar à minha direita um mundão de perder de vista. Bem abaixo, descendo a encosta donde estou, dezenas de estradas de terra para todos os lados; e ao longe, Sua Majestade Serra da Mantiqueira. Lindo! A Serra do Papagaio também faz parte da Serra da Mantiqueira, só que num dos extremos dela. São muitos picos e, algum dia, reconhecerei quais são. 

         Como é bom caminhar sobre as montanhas... Algumas vezes passavam andorinhas, tão próximas que ouvia o seu som rasgando os céus. Felizmente o sol deu uma trégua por um bom tempo, ficando parcialmente encoberto, e com a ajuda do vento estava perfeito. Logo percebi alguns rastros recentes de algum veículo, demonstrando que alguns ainda não respeitam a preciosidade do lugar. Pouco depois me distancio deste visual, pois o caminho segue para a esquerda, entrando num platô incrível, rodeado por seus picos.

            Depois de caminhar um bom tempo pelo platô, despreocupadamente contemplando tudo ao meu redor, uma nova sensação de paz começou a envolver o ambiente, à medida que ia percebendo o céu sobre mim. Foram momentos em que me entreguei de corpo e alma, tamanha a vibração da Divina Natureza à minha volta. Lá na frente comecei a ver uma ponta do Pico do Papagaio. Notei que já estava mais alto que ele. Assim, atrás de mim ficou o restante da Serra da Mantiqueira, à minha direita o Retiro dos Pedros e mais adiante, no extremo esquerdo, o Pico do Papagaio. Esse era o meu campo de visão.    

                O caminho dos carros findou e comecei a seguir uma trilha, onde encontrei fezes de cavalo, o que demonstrava estar na rota certa. Por aqui se cavalga muito e muitos dos passeios são feitos a cavalo. O final desta se deu num remanso, próximo a encosta com vista para a cidade. Notei que a água era cristalina e que corria, lentamente, mas corria. Provei e aprovei a água enchendo minha garrafa. Agora não ia mais precisar abastecer naquela pousada, pois assim já pensava. Após refrescar-me, segui em direção oposta ao que devia ser o retiro: uma casa de pedra, com chão, paredes e teto de pedra. Um refúgio para os viajantes, mais abaixo de outro pico. Ao chegar, me fascinei com a vista do outro lado do Pico do Papagaio, bem como dos picos menores à frente, e á direita uma parte do Vale do Matutu.

            Desci do cume dessa pedra e acessei o refúgio, com uma janela enorme com vista para o céu e para o horizonte. Aproveitei para lanchar e sonhar com a possibilidade de acampar ali. Ao final deste, segui montanha acima. Sem maiores dificuldades cheguei lá; foi possível ver todo o Vale do Matutu. Apesar do céu estar escuro para aqueles lados, com seus raios e trovões, a vista mesmo assim foi sublime, pois pude ter uma visão de 360 graus. Lindo! 


            Daquele ponto comecei a retornar. Já eram 15:30. Decidi seguir pelo cume da montanha, uma vez que achara um possível caminho. Pouco depois vi uma seriema correndo e saindo da minha vista. Por ali segui vendo o visual do Vale do Matutu à minha esquerda, e à frente se descortinava, novamente, a Serra da Mantiqueira. Desta vez o contorno de um pico me lembrou o do Alto do Capim Amarelo na Serra Fina. Procurei pelo Pico das Agulhas Negras, que sabia estar próximo, mas não soube precisar. Esse visual da serra é impressionante pelo volume de picos que avistamos. Pouco depois cheguei ao final dessa trilha no topo e, felizmente, logo encontrei uma que descia. Via o caminho por onde viera lá longe à minha direita e precisava chegar lá. Ao final da descida tinha uma trilha subindo outro pico à minha frente e uma se dirigindo para a direita. Pela direita deu certinho. Cheguei onde já conhecia. Da próxima vez virei por aqui.

            Por volta das 16:40 comecei a descer de bike a piramba. Até que fui melhor do que pensava – também com o treinamento na Trilha Cava... Dez minutos depois já acessava a estrada no sentido de casa. A descida só não foi mais tranquila por causa do calçamento, pois o impacto para descer era grande.  Exatamente às 18:00 cheguei em casa, com o corpo todo moído e a alma lavada.

Aiuruoca, 29/10/2012, 17:45

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